Olá amigos queridos!!!
Aqui em casa está tudo bem graças a Deus, maridão trabalhando sozinho e só por hoje esta limpo, está bem e lutando para viver uma vida saudável, vejo pequenos progressos dia após dia, já até se matriculou em uma academia para começar a se exercitar...Enfim eu e minha filha estamos bem, netinho chega em junho e aguardamos ansiosos a chegada deste anjinho ou anjinha( fizemos a ultrassom e o bebe estava sentado) que com certeza trará muita paz e alegria para nossas vidas...Hoje vou falar um pouco de meu paizão, que já não está mais aqui, foi morar com Papai do céu...
Dia 20 de fevereiro que passou, fez 1 ano que meu pai foi morar com Deus, e daqui a 2 dias, seria o aniversário dele, completaria 74 anos...Saudades!!
Estava me recordando de minha infância e parte de minha adolescência, o quanto sofri por meu pai ser dependente do álcool, naquela época jamais imaginei que ele fosse uma pessoa doente, um alcoólatra, por este motivo passei grande parte de minha vida, com muita mágoa de meu pai, tinha muito medo e também um pouco de preconceito, pois não entendia porque minhas amiguinhas(os) podiam ter suas famílias, com pais e mães ''normais'', e eu não. Infelizmente grande parte da sociedade, julgam os alcoólatras, como bêbados, vagabundos e marginalizam os adictos, como se fossem bandidos, ou sem vergonhas, que não param com o vício por não terem força de vontade. Não enxergam a adicção como doença grave, como de fato é.
Lembro-me que morávamos eu, minha avó e meu pai, eu e minha avó estávamos completamente adoecidas pela convivência com meu pai e sua adicção ativa.
Naquela época nem imaginávamos que éramos codependentes, nunca havia ouvido falar sobre esta doença ''codependencia''.
Quando me recordo de meu pai, lembro-me de momentos felizes que tive em minha infância quando ele estava sóbrio, infelizmente estes momentos eram raros, pois pelo que me lembro, meu pai bebia quase todos os dias...Minha avó, se desesperava ao ver a situação de meu pai, e nós ficávamos planejando mil maneiras que fizesse que ele maneirasse com a bebida...
Apesar do vício, meu pai era uma pessoa extremamente responsável e sempre trabalhou até se aposentar.
Quando meu pai bebia, ele sempre ficava muito agressivo, nervoso, intolerante. Tínhamos que viver ''pisando em ovos'' em casa, pois qualquer comportamento ou atitudes que ''ele'' colocava em sua mente que estivessem errados, já era motivos para brigas, gritos e agressões...
Minha avó sempre foi muito católica, passava horas rezando, fazendo novenas, na tentativa de que ele largasse a bebida, passava dias chorando, indo atrás dele em bares, jogando as bebidas dele fora... Tudo na expectativa de que ele parasse de beber.
Nem minha avó e muito menos eu, achávamos que meu pai estava doente, que ele era um adicto e que tinha uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, que é o alcoolismo.
Não imaginávamos a dimensão desta doença que mata milhões de pessoas todos os anos no mundo.
Pensávamos que era sem-vergonhice dele o fato de ele não parar de beber, não imaginávamos que ele lutava todo dia contra este vício terrível, nós víamos que ele conseguia passar alguns poucos dias sóbrio, mas ficava terrivelmente nervoso ( crises de abstinência) e logo voltava a beber novamente.
Quando meu pai estava sóbrio, vivia me pedindo perdão pelas coisas que fazia quando estava bêbado.
Não consegui perdoar meu pai quando criança, nem quando adolescente, achava que tudo que ele fazia era pura maldade, nunca consegui enxergar a doença, apenas o perdoei quando me casei e convivi com a adicção de meu marido, quando vivi na pele a experiência de amar um adicto, quando comecei a pesquisar sobre este assunto e entendi que realmente o alcoolismo e a dependência química, são doenças, incuráveis, progressivas e fatais, reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde...
Depois que me casei, meu pai adoeceu e como eu era filha única, o levei para morar comigo e pude conviver com meu pai em seus últimos anos de vida.
Nestes anos Deus me deu a oportunidade de conhecer mais meu pai, meu pai sem o vício, meu pai sóbrio, meu pai como realmente ele era.
Descobri que, ao contrário do que eu pensava, meu pai tinha muito amor por mim, descobri que ele sempre carregou uma grande culpa por todo mal que ele nos fez em consequência do seu vício.
Por um período nos tornamos amigos e confidentes, e quando ele descobriu a adicção de meu marido, jamais julgou, e se propôs a me ajudar qual fosse minha decisão...
Em momentos difíceis, que meu marido recaia, era meu pai que estava ao meu lado sempre me dando a maior força, criamos um relacionamento de amor e carinho que nunca havíamos tido em minha infância e adolescência, fui aprendendo a perdoar e amar meu pai pelo ser humano que ele realmente era, com suas qualidades e também com seus defeitos.
Depois de alguns anos que estávamos morando juntos, descobri que meu pai estava com Alzheimer, a doença é degenerativa e a pessoa vai perdendo gradativamente a memória...
Aos poucos fui me despedindo de meu pai em vida, ele deixava aos poucos de ser meu pai, para se transformar praticamente em um filho para mim.
Aos poucos ele ia esquecendo de tudo, de minha filha, de mim, dos amigos, ia se transformando em uma criança, com comportamentos e atitudes infantis, determinada fase da doença, ele me chamava de ''mãe'', já não me reconhecia em momento algum e acredito que porque eu o trocava, dava banho e o alimentava, ele me relacionava com a mãe, na cabeça dele.
Durante todo este tempo que convivi com meu pai, fui aprendendo a ama-lo e conhece-lo cada dia mais, acredito que tudo que acontece em nossas vidas, não ocorre por acaso, tudo tem um motivo, tem um porque.
Talvez a maneira que Deus achou de me aproximar de meu pai, perdoa-lo e ama-lo, foi através da doença dele e de meu marido, só consegui entender realmente que meu pai era doente, que suas atitudes quando estava alcoolizado não eram intencionais e sim consequência de sua adicção, consegui enxerga-lo como um ser humano normal, assim como eu e você, que simplesmente tinha uma doença, que fazia ele perder o controle de sua própria vida. Entendi que ele não era um sem vergonha, ou sem moral, vagabundo, ou simplesmente um bêbado, como as pessoas insistiam em rotular.
Ele era meu pai, um adicto, um homem com muitas qualidades, e também defeitos, mas que mesmo doente conseguiu trabalhar sua vida toda e se aposentou por tempo de serviço, apesar de sua doença, nunca se entregou, e de sua forma sempre lutou para ter uma vida normal, era alegre, inteligente e tinha uma educação fora de série, colocava muitos não adictos no bolso...
Hoje quando falo de meu pai, não lembro dos maus momentos que passamos por causa da adicção, hoje quando me lembro dele, é com saudades, com ternura e carinho, e com a felicidade, de poder ter convivido com ele nos últimos anos de sua vida e conhece-lo como realmente ele era.
Hoje agradeço a Deus por ele ter sido meu pai, por tudo que ele me ensinou. Mesmo tendo a doença da adicção, ter cuidado de mim e nunca ter me deixado faltar nada. Agradeço a Deus por ter me permitido passar por tudo isso, pois através do que passei, hoje me tornei um ser humano melhor, um ser humano que ama mais ao próximo, que não julga e não tem preconceito com seu semelhante, que entende que não existe ninguém perfeito, que todos nós de uma forma ou de outra temos nossos defeitos, que ninguém é melhor que ninguém, e aos olhos de Deus, somos todos iguais, e ele nos ama da mesma forma.
Hoje te agradeço e me recordo com saudades....Obrigado por tudo pai, sempre vou te amar!!! SAUDADES.....
Legal Luciana.... tenho certeza que seu pai está orgulhoso de vc esteja onde estiver...Muita luz!!
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