sexta-feira, 23 de maio de 2014
Orgulho, Negação e Falta de Humildade....
Olá meus queridos, não tenho postado com tanta frequência pois como vocês devem ter lido nos posts anteriores minha filha está gravida e se encontra no ultimo mês de gestação.
As coisas aqui em casa andam da mesma forma, ele não evolui em nada, a falta de humildade, orgulho e negação de meu familiar adicto, faz com que sempre ele viva neste ciclo destrutivo, nunca progride, não vai a lugar algum...
Depois de todos estes anos vivendo nesta montanha russa da adicção: hora estou bem, hora estou mal, hora recaio, hora já posso tomar aquela inocente ''cervejinha'', ele até hoje vive no auto engano, não admitiu para ele mesmo que é um adicto, acha que pode ir levando esta vida de aparências entre trancos e barrancos.
Por mais que em meus momentos de insanidade, eu tenha tentado tudo que se é possível, pensando estar ajudando de alguma forma com que ele mudasse suas atitudes e entrasse em recuperação, foi tudo em vão.
A única lição que pude tirar de tudo isso, foi aprender o que se deve e o que não se deve fazer, quando o assunto é dependência química....
Não adianta achar que nosso amor, ou nossos esforços, por maiores que sejam, irão interferir na decisão do adicto de entrar ou não em recuperação, definitivamente não depende de mim.
Se o amor, o cuidado e dedicação fizessem com que os adictos entrassem em recuperação, a maioria de nossos familiares adictos estariam vivendo bem e em recuperação.
Mas temos que aceitar de uma vez por todas que somos totalmente impotentes perante o vício de nossos familiares adictos.
Meu familiar adicto tem vivido na ativa ja nem sei quanto tempo, quando digo isso a ele, ele se enfurece, e diz que não está na ativa porque não esta usando drogas..risos
Ele ainda não conseguiu admitir ( por falta de humildade) que o álcool para ele é a pior droga....
Ele praticamente bebe quase todos os dias, faz uns dois meses, que ele não tem feito o uso do crack, mas todos nós sabemos que é apenas questão de tempo para que ele volte ao uso.
O grande problema de meu familiar adicto, é que ele sempre pensa que conseguirá sair do vício sozinho, ele quer ter uma vida normal, como se nunca tivesse tido problema algum com drogas em sua vida. As vezes é orgulhoso, arrogante e prepotente...Realmente a falta de humildade atrapalha muito no processo de recuperação dele.
Ele sempre aposta que desta vez vai ser tudo diferente, que ele vai conseguir, que ele é diferente de todos os outros adictos do mundo....Quanto auto engano.
Antes, eu deixava que a tristeza e a frustração, tomassem conta de minha vida pelos comportamentos insanos de meu familiar adicto, hoje não mais. Estaria mentindo se dissesse que sou feliz com a escolha de vida que ele resolveu ter, mas não permito mais que isto interfira tanto na minha vida e minha felicidade. Procuro separar minha vida da dele. É difícil, mas é possível.
Tudo que estava em meu alcance para ajuda-lo em sua recuperação, tenho a consciência limpa de que fiz, basta lerem meu blog, Já tirei dele todas as regalias possíveis, para que ele sentisse as perdas e caísse em si, mas nada adiantou.
Ele faz suas manipulações, chantagens emocionais, se faz de vítima para ver se consegue me comover. Aqueles teatros característicos que todo adicto na ativa faz.( são peritos na arte de manipular)
Infelizmente, enquanto ele continuar com a convicção de que ele consegue sozinho, só tenho a lamentar por ele.
Aprendi que posso mudar meu comportamento e assim fazer com que ele gradativamente melhore o dele, mas falta muito para ele realmente entrar em recuperação.....Uma das coisas que mais aprendi é impor limites e saber dizer ''NÃO''.Eu decidi eliminar de uma vez por todas a palavra ''EXPECTATIVA'' da minha vida. Assim o fardo se torna mais leve e eu não tenho tantas decepções, sei que não é fácil viver desta maneira, e é uma vida que não desejo a ninguém, afinal todos temos sonhos, e gostaríamos de projetar nossos sonhos baseados em expectativas de uma vida melhor.
Com toda esta bagagem de codependencia que carrego comigo ao longo destes 15 anos de adicção de meu familiar, procuro passar o pouco de experiência que obtive para meus amigos que estão começando agora esta longa jornada, procuro passar o pouco que sei, para que não cheguem a cometer os mesmos erros e insanidades que cometi no passado...Por incrível que pareça meus queridos existem muitas pessoas nos dias de hoje que nem imaginam o que é codependencia, não tem a mínima noção de como ajudar um adicto com assertividade.
O assunto ''codependencia'' infelizmente ainda é muito pouco divulgado em nosso país, e apesar de ser uma doença tão grave quanto a dependência Química , ela não é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde.
O problema cada dia que passa tem se agravado, e mais e mais famílias hoje, convivem com a problemática de ter um adicto na família.
Muitas famílias internam seus familiares adictos e não se tratam aqui fora, e quando o adicto sai encontra uma família completamente perdida sem saber como agir para ajudar seu adicto.
Por isso é tão importante que quando o adicto decida se tratar, a família procure um grupo de ajuda (na lateral da pagina tem os links de alguns grupos) e também faça o tratamento. Estou falando sobre isso, pois sempre recebo emails de famílias completamente perdidas sem saber como ajudar seu familiar adicto.
Enfim meus queridos, hoje eu procuro viver minha vida e tomar minhas decisões independente das escolhas que ele faça, contanto que as escolhas dele não me prejudiquem e prejudique minha filha, vou vivendo, tendo a mais plena certeza que a única responsável pela minha felicidade sou eu, só posso modificar a mim mesma, pelo meu semelhante, só me resta orar e confiar em Deus, confiar que dias melhores virão.
Retirei um texto que achei muito lindo, do blog de minha querida amiga Poly e vou partilhar com vocês...
“Eu sou responsável por mim. Eu sou responsável por viver ou não a minha vida. Eu sou responsável por prover o meu bem estar espiritual, emocional, físico e financeiro. Eu sou responsável por identificar e satisfazer minhas necessidades. Eu sou responsável por resolver meus problemas ou aprender a conviver com eles, se não puder resolvê-los. Eu sou responsável por minhas escolhas. Eu sou responsável pelo que dou e recebo. Eu sou responsável por estabelecer e alcançar minhas metas. Eu sou responsável pelo tanto que desfruto de minha vida. Eu sou responsável pelo tanto de prazer que encontro em minhas atividades diárias. Eu sou responsável por quem eu amo, e como escolho expressar este amor. Eu sou responsável pelo que faço aos outros, e pelo que eu permito que os outros me façam... (Melody Beattie)
terça-feira, 6 de maio de 2014
O MEDO DO ADICTO
O medo do Adicto
Estou completando hoje 56 dias dos 60 dias em que estou nesta clinica de recuperação. São 56 dias limpo, 56 dias em que ganhei uma nova perspectiva de vida sem a droga.
Estou feliz aqui, ganhei verdadeiros amigos que me entendem, que me ajudam, que compartilham seus problemas, confidenciam medos, esperanças. Compreendem a minha compulsão, meu desejo insano por drogas, todos nós aqui estamos passando pelos mesmos problemas.
Ganhei uma serie de conhecimentos que me ajudam e ajudaram a combater esta loucura. Descobri principalmente que o problema que me atormenta não é só a droga, ela é apenas um ponto dentro de pontos, ela é bengala que necessito para poder caminhar, ela é a desculpa para meus medos e minhas ansiedades. Um porto seguro para tudo aquilo que não tenho coragem de fazer ou ser.
Aprendi que não basta apenas ¨Eu¨ parar de usar drogas, ¨Eu¨ tenho de deixar de ser uma droga, ¨Eu ¨ tenho que parar de pensar como Adicto. Tenho de mudar atitudes, tenho de deixar de ser o centro do universo para ser parte dele. Isto é que é o verdadeiro sentido da ¨Recuperação¨.
Meus defeitos acumulados por anos, outros desenvolvidos foram moldando minha personalidade e fazendo parte essencial de toda a lou-cura que me tornei hoje, isto, é que tenho de Mudar. Mudar a mim não a droga e se não o fizer isto; se não mudar meu interior; estarei apenas mudando meu vício, minha droga.
Hoje deslumbro um outro pensar, um outro mundo, a minha serenidade atingida me acalma e me torna um ser humano mais capaz, um ser que não precise mais de desculpas para suas fraquezas, para sua falta de coragem diante da vida, diante das pessoas, dos sentimentos, do mundo. Que não precise mais se drogar para se anular ou para se fazer valer como gente perante uma situação ou uma decisão.
Aqui na clinica me sinto protegido, aqui tenho limites, me sinto cercado por muralhas, tenho normas, regras e responsabilidades. Sinto-me amparado por amigos, socorrido por terapeutas, tenho coisas que nunca pude presenciar de verdade, sou um ser que a cada dia conquista uma batalha e agradece por ter tido mais um dia de sobriedade.
Confesso que tenho medo do mundo lá fora, faltam apenas 4 dias para minha internação acabar, logo estarei lá fora e estarei por minha conta. Claro que terei apoio dos amigos conquistados, todos estarão sempre prontos a me ¨Ajudar¨, as ferramentas que aprendi estarão ao meu dispor, todo o conhecimento adquirido terá de ser colocado por mim em prática. Mas, apesar de tudo isto, confesso, tenho medo. Mas meu medo maior não é do mundo lá fora, não são dos amigos dos tempos de uso de drogas que deixei, não são dos lugares que freqüentei, nem da boca de fumo da qual freqüentava e me sentia sócio. Meu maior medo é o da minha ¨Casa¨, parace incrível, este é o lugar hoje mais assustador para mim.
Dos amigos de uso eu me afasto, os lugares eu evito, a boca eu nem passo perto, mas, da minha casa, é complicado!
Todo aquele ambiente esta de braços abertos a minha espera. Todas as atitudes alheias estão a minha espreita, os ressentimentos causados ainda estão a flor da pele, o caos que existiu um dia ainda impera.
¨Meus familiares¨ ainda são o que deixei a cerca de 60 dias atrás. Eles não mudaram, não se redescobriram, não se recuperaram. Vou encontrar as mesmas pessoas, as mesmas atitudes, os mesmos sentimentos, os mesmos medos, os mesmos defeitos, os mesmos conflitos, a mesma pseudo-sabedoria. Tudo aquilo que conheço de todos a anos. Vou encontrar toda a insanidade que ficou, isto me trás medo, o medo de que não tenha condições de suportar todo o descontrole que é a ¨minha família¨.
Sei que sou portador de uma doença sem cura, porém, sei que minha doença tem controle desde que eu me utilize de todas as armas que aprendi. Hoje tenho conhecimento que ¨Meu familiar¨ também é portador de uma doença, na qual a ¨negação¨ e um dos seus sintomas mais fortes. Admitir para si que erros foram cometidos e que sua vida esta baseada em mentiras é para ¨Ele¨ inaceitável, ficando mais fácil encontrar culpados, ficando mais fácil ser uma vitima. Este não aceitar me causa temor, sou um doente em ¨Recuperação¨ que vai conviver com doentes que não aceitam a sua doença e nem admitem uma ¨Recuperação de si¨.
Temo por ¨minha recuperação¨, pois, as conquistas de cada 24h que tive me são extremamente valiosas, a dor para conquistá-las me foram muito doídas e não quero perder a guerra que apenas comecei a vencer. Fazer-me dono de novo da minha vida me faz sentir tudo de bom que posso ter, me faz ver todas as dores que causei a mim e que não quero mais ocasionar.
Voltar para ¨Minha casa¨ me atemoriza porque vou encontrar tudo aquilo que por minha incompetência como ser humano me deixei possuir. As mesmas idéias, os mesmos preconceitos, todas as mentiras ditas como verdades ainda estarão lá instaladas. Eu mudei, mas, meu familiar infelizmente não. Meu familiar ainda estará cheio de sua arrogância, cheio de sua sabedoria alheia e de sua ignorância de si.
Tenho medo da ¨Casa¨ que deixei a cerca de 56 dias atrás, que esta ¨Casa¨ acabe com todo o aprendizado que adquiri e todo o controle que hoje e só por hoje, agora e só por agora, tenho sobre minha doença. Minha ¨Casa¨ possui todas as ferramentas, todas as facilidades para que eu venha a fraquejar, tenho todas as chances de me deixar levar de volta ao uso de drogas. Quero que minha sobriedade impere sobre mim hoje e quero que isto permaneça inalterado.
Sei que ¨Meu Familiar¨ não é culpado por minha drogadição. Ele é uma pessoa que também sofre com a sua compulsão de Controle e Sabedoria. Estando cego por suas drogadições conquistadas, por seus conceitos preconceituosos, por seus conselhos concedidos e não aplicados. Sinto que sua drogadição pode me fazer voltar as minhas drogadições.
Aprendi aqui na clinica que tenho que evitar lugares e pessoas, para que estes não venham a atrapalhar a minha Recuperação. Tenho muito ainda que fazer. Percebo que terei muitos desafios a enfrentar e entre eles esta ¨O Meu Familiar¨. Ele é tudo aquilo que ¨Eu¨ sempre cultuei, ele é aquilo que eu sempre quis que ele fosse, os seus defeitos de caráter são tudo o que eu preciso para continuar a ser um drogado e estes defeitos ainda estão latentes e podem contagiar-me.
Me ¨desligando¨ dele com Amor.
Para que ¨Eu¨ possa ganhar hoje e só por hoje a tão sonhada ¨Recuperação¨.
TEXTO RETIRADO DO BLOG:http://modificaramimmesma.blogspot.com.br/2012/03/o-medo-do-adicto.html
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Internação Involuntária
“Amá-los com todas as nossas forças, significa resguardá-los deles próprios e, mesmo que a princípio não entendam desta forma, mesmo assim, precisamos fazê-lo o quanto antes.”
Muitas vezes nos perguntamos se estamos sendo duros demais com os nossos adictos ao tomarmos a decisão de interná-los involuntariamente, e sabemos que tomarmos tal decisão, exigirá de nós uma força quase descomunal. Nestas horas, precisamos ser firmes e fazer por eles, o que não conseguem fazer sozinhos. Porque, em um dado momento, muitos dependentes chegam a um estágio da doença que perdem até mesmo o poder de escolha e decisão. Estou me referindo a um dilema que muitas vezes compartilhamos ao especularmos a possibilidade de retirá-los de circulação contra a própria vontade. Ao tomarmos esta decisão poderemos nos sentir o pior dos seres humanos, porque teremos a sensação de estarmos sendo covardes e cruéis, mas não é bem assim. Precisamos protegê-los deles próprios. Mesmo que esta internação tenha apenas um efeito parcialmente paliativo, pois, o tiro pode sair pela culatra e o procedimento funcionar ou não. Mas, precisamos fazê-lo mesmo que isto doa demais, por que a dor de não fazer nada e ver um ente querido morto é muito maior do que aquela que poderemos sentir ao constatarmos que depois que a vida se foi, nada mais poderá ser feito.
“Fui internada contra minha própria vontade, no ano de 1998. Naquele momento, senti-me péssima. Na verdade, eu me sentia vítima de um grande complô organizado pela minha mãe e pelo meu ex- marido. Realmente, achei que a minha família estava desistindo de mim e que internar-me a força, era uma boa forma de se livrarem do peso que me tornei em suas vidas. O tempo passou e pude ver o quanto me amavam e como foi difícil para eles tomarem a decisão de me internar involuntariamente. Percebi que agiram certo e, no momento mais crítico da minha adicção ativa, eles me resguardaram das minhas insanidades e salvaram a minha vida. Foi uma cena feia: de um lado o psiquiatra, do outro a minha mãe e o meu ex-marido, e eu, achando que tudo não passava de uma encenação. Só entendi a gravidade da questão, quando ouvi o médico perguntar para eles: Ela tem alguma condição de convívio social? E, eles responderam em coro: Não! Então, percebi que estava em maus lençóis, ao ver dois enfermeiros me segurando pelo braço e levando-me embora para uma ala psiquiátrica. Foi horripilante. Chorei muito, não pelo fato do afastamento social, mas pelo fato de não poder mais usar drogas estando confinada ali. É difícil entender que sentimento era aquele, pois eu deveria estar pensando na minha família e não em me drogar novamente. Mas os meus valores estavam reduzidos a zero, e nada era mais importante do que usar, nem mesmo a minha vida era importante naquele momento. Adentrar em uma ala de psiquiatria e ver aquelas pessoas babando, nuas e totalmente desconexas do mundo aqui fora, foi um choque para mim. Talvez, eu tenha tido o meu primeiro despertar espiritual lá, naquele hospital. Por que de repente tudo ficou muito claro. Parece que me foi retirado o véu da ignorância, quando sentada no pátio daquele hospital, olhei ao meu redor e pensei: Darléa, o que você está fazendo com a sua vida? Por que quer morrer? Por que não luta? Não desista de você! Queridos, não sei se fui eu quem pensou ou se foi a voz de Deus, mas analisei bem as perguntas e me questionei se ainda existia uma chance para mim, depois de tantos sacrilégios que cometi com a minha vida. E, decidi tentar modificar tudo que havia vivido até aquele momento. Quando saí da internação, voltei aos grupos de mútua ajuda e, apesar de tantos altos e baixos, estou conseguindo ficar limpa. Consegui resgatar a minha dignidade. Não posso afirmar-lhes que foi ou não o efeito cascata que a internação me deixou, que me levou a tomar uma decisão de parar com as drogas, mas com certeza, ao vivenciar tudo que passei em uma internação, decidi que não queria mais aquilo para a minha vida. E, a única forma de não voltar mais para aquele lugar, seria e ainda é, não voltar a tomar aquela primeira dose.”
Por: Darléa Zacharias
(Trecho do livro Inimigo Oculto - Foco, Força e Fé, capítulo: Adicção e codependência: uma mistura explosiva!)
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