segunda-feira, 3 de setembro de 2012
QUANDO É NECESSÁRIO DIZER NÃO AO DEPENDENTE QUÍMICO?
Quero compartilhar esse artigo com vocês, pois se trata de algo que pode nos ajudar a entender porque devemos tomar as atitudes certas o quanto antes.
Muitos pais ficam desorientados quando devem dizer NÃO ao dependente químico e acabam prejudicando aos seus filhos, mesmo com a intenção de acertar ou de ajudar.
No decorrer de mais de uma década como psicoterapeuta de dependentes químicos tenho observado que uma das variáveis mais comprometedoras para a recuperação é a atitude de negação do problema pela família ou a atitude incorreta perante o dependente.
Quando o problema se torna tão gritante a ponto de não ser possível mais ignorar o fato, aí vem mais uma crença falsa da família: a convicção de que seu familiar dependente é diferente de qualquer outro usuário de droga no planeta e que superará a dependência praticando um esporte, viajando para algum lugar alternativo ou distante, fazendo algum tratamento paliativo (que não seja realmente o mais indicado), ou mil outras alternativas completamente irrelevantes diante da magnitude e gravidade do problema. Desta forma, a família acaba muitas vezes facilitando o uso de drogas para o usuário, mesmo que sem consciência disto, e fica protelando uma tomada de decisão firme para induzir o dependente químico ao tratamento.
O dependente por sua vez está completamente apaixonado e insano pela droga, como convencê-lo, então, de que está doente se ele retira um enorme prazer das substâncias psicoativas ou mesmo do álcool?
Por isto sempre indicamos que o tratamento deve sempre começar pela família, recebendo orientação de forma correta sobre co-dependência e rompendo, desta forma, um ciclo negativo de atitudes e reações.
Quando a família unida diz NÃO ao uso de álcool e outras drogas com convicção que não tolerará este tipo de comportamento em casa, é neste momento que o dependente químico começa a pensar em se tratar.
Mas como é possível, sendo você o familiar de um dependente químico, dizer NÃO ao uso de álcool e outras drogas se o problema já se tornou incontrolável?
1º: Não se sujeite às regras do dependente químico.
O dependente químico, simplesmente não tem o direito de dar fim a vida de toda a família e amigos. Poupe-se a si e sobretudo a crianças presentes. Crianças que crescem ao lado de pessoas adictas (que não estejam em recuperação) terão probabilidades muito maiores de virem a desenvolver personalidades aditivas também.
Dizer NÃO ao dependente químico não se trata de abandonar o seu familiar ou de ser cruel. Trata-se de compreender que você não pode ajudá-lo e existem pessoas que simplesmente podem. Trata-se de compreender que se você mantiver a situação como está e continuar aceitando todas as manipulações e situações geradas pelo dependente químico, as probabilidades de que ele peça ajuda a quem o pode ajudá-lo diminuirão, e assim segue-se o ciclo negativo,, pois ele “enterra” todos os dias a si mesmo e a todos que o rodeia.
Avance e não olhe para trás. O dependente químico precisa sentir perdas, precisa “bater no fundo” e compreender que não é seguro manter o caminho que segue. Não espere que ele lhe agradeça por tudo o que você faz pela sua sobrevivência, ele não tem a capacidade de avaliar as situações corretamente.
E ele age desta forma porque está doente e porque estes são sintomas de dependência e também porque esta, assim como outras doenças, mina e transforma a personalidade do indivíduo. Por isso compreenda que martirizar-se por um dependente químico é colocar mais chamas na fogueira em que ele já arde. O que você tem a fazer é simplesmente agir da forma correta.
2º: Saiba amar sendo firme e sabendo reagir da forma correta na hora certa.
Você NÃO deve ceder aos desejos do dependente químico. NÃO deve colocar “panos quentes” sobre os erros do dependente, justificar seus erros ou acobertar o seu vício para poupá-lo, pois quanto mais você faz isto, pior a situação do dependente – você simplesmente está facilitando a vida dele.
Não permita que o dependente lhe “explore” você ou de qualquer outro modo. Respeite-se.
Não ignore as formas de manipulação ou chantagens utilizadas pelo adicto. Não estabeleça nenhum tipo de “pacto” ou “acordo” com o indivíduo dependente para manter segredos sobre o consumo de drogas. Isso apenas aumentará a falta de responsabilidade por parte dele.
3º: Peça ajuda a quem sabe.
Não tente imaginar que lidar com uma doença deste porte é uma ciência inata. Milhares de pessoas estudam a adicção e esta é uma das doenças em maior progressão no mundo atual: é grave, é mortal e está longe de ser um problema único da sua família e daquela pessoa. É um flagelo social de enormes proporções e habitualmente a família sente um terrível sentimento de impotência.
Por isso não se meta na tarefa heróica de tentar resolver isto por si. É mesmo necessário pessoas habilitadas em recuperação da dependência química para poder ajudar o seu familiar e há muitas pessoas dispostas a estender-lhe a mão, seja em comunidades de 12 passos, seja em clínicas públicas ou mesmo particulares.
4º: Cuide de si mesmo
Conheça os 12 passos e inicie uma implementação dos 12 passos na sua própria vida. Procure alguma reunião à qual lhe faça sentido ir e procure saber tudo acerca da importância e questões relacionadas com cada passo. Arrisque aceitar a hipótese de que os 12 passos possam lhe ajudar a curar suas feridas, e esclarecer dúvidas acerca de como o dependente afeta a sua vida.
Apesar de você não ser o responsável pela dependência do seu familiar (pois não existem culpados neste processo), você é responsável pelo seu próprio comportamento. Você tem a escolha de ajudar o seu familiar a evitar o consumo de substâncias, através do adequado estabelecimento de limites, acolhimento, orientações e tratamento.
5º: Faça um exercício diário de integridade moral
O dependente químico não vê pessoas, ele simplesmente vê “objetos”. Não por ser mau, mas por estar doente. O dependente químico manipula por sobrevivência e não agradece porque não vê o outro enquanto pessoa com a qual deva ser empático. Por isso não entre em negociações consigo nem com o dependente químico.
Integridade é dizer a verdade, NÃO aceitar manipulações nem manipular, NÃO negociar, NÃOtentar “comprar” a confiança do dependente químico (“se você parar de usar eu lhe compro um carro novo”),NÃO se humilhar, NÃO implorar, NÃO entrar em dramas. Mantenha-se integro todos os dias – respeite-se e faça-se respeitar.
A dependência do seu familiar não é um sinal de fraqueza da sua família. Infelizmente, isso pode ocorrer em qualquer família, como quaisquer outras doenças.
NÃO ameace, NÃO acuse, NÃO moralize os erros passados do seu familiar dependente. Isso apenas tornará você o foco da raiva e frustrações do seu familiar dependente; além disso, não ajudará o mesmo a modificar o seu comportamento.
No entanto, NÃO mascare, NÃO desculpe e NÃOproteja o dependente das conseqüências naturais do seu comportamento. Fazendo isso, você se torna “cúmplice” na perpetuação dos comportamentos irresponsáveis ou inadequados do adicto.
NÃO faça “jogos de culpa” para o indivíduo dependente. Por exemplo, dizer que “se você realmente gostasse de mim, você pararia de usar drogas” – isto realmente não funciona.
Por mais errado que este pensamento lhe pareça ou injusto: os seus problemas são só seus, não culpe mais ninguém. Mude a sua realidade em vez de tentar mudar a realidade do outro.
Além do problema relacionado ao uso de drogas pelo familiar dependente, você tem outros problemas para solucionar. NÃO os deixe de lado.
6º: Aposte na recuperação
Compreenda que o dependente químico precisará provavelmente de internamentos de meses, e que a dependência química é uma doença crónica, que precisa de muito tempo de trabalho, e que geralmente a personalidade aditiva estará sempre latente.
Uma internação em uma clínica é apenas oprimeiríssimo passo de um longo caminho.
NÃO interrompa um tratamento por qualquer motivo, muitas vezes vemos exemplos de motivos que são apenas pretextos para a interrupção do tratamento, minando as chances do seu familiar se recuperar de verdade.
Por isto é tão importante que a família se “recupere” da co-dependência e que inicie também um tratamento, pois é o primeiro passo para entender os seus problemas e angústias, trocando a ansiedade por uma vida equilibrada e podendo, desta forma, ajudar seu familiar querido na luta contra as drogas.
Uma vez tratado o dependente químico, não se iluda ao pensar que um tratamento foi o bastante para curá-lo, por melhor que ele pareça estar. A dependência química é uma doença crônica que requer tratamento para o resto da vida, é como uma doença sem cura, como diabetes, hipertensão – deverá tratar e estar vigilante para sempre. Tenha isto em mente, pois ele deverá ter disciplina após a saída de uma internação.
Pessoas que convivem com usuários drogas ou álcool são, em geral, as mais suscetíveis a sofrer crises de estresse e distúrbios nervosos na luta diária para livrar amigos e parentes da dependência química. É um sofrimento muito grande e você não precisa estar sozinho nesta luta, a co-dependência pode ser algo realmente devastador. Peça ajuda.
Comece já. Olhe no seu espelho o seu olhar, provavelmente cansado e escolha primeiramente cuidar de si mesmo – desta forma você estará ajudando o seu familiar.
Sergio Castillo
Diretor Terapêutico
Clínica Grand House
www.grandhouse.com.br
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